Nós, mulheres mais velhas, especialmente depois dos sessenta, temos importante papel na transformação das relações sociais que produzem sofrimento.
Um dos temas importantes, não só neste mês de março, do Dia Internacional da Mulher, é o da violência sexual.
Ela tem diferentes formas.
Mas o início é sempre o mesmo: a mulher provoca — é a responsável — pela violência que sofre.
E isso causa tanto sofrimento, do qual nem sempre temos consciência.
Mulheres — mesmo meninas — são acusadas de terem provocado o assédio, o estupro, as ofensas, o espancamento…
Como pessoas com experiência de vida, sabemos que não é assim.
Não são roupas ou lugares que levam a estupro.
Assim como não são ações que levam ao espancamento.
Há mulheres que pisam em ovos em suas próprias casas — mas mesmo assim sofrem violência, pelo café estar fraco, pela roupa estar mal passada, pela… não importa a desculpa.
O que há é o “direito” do homem de exercer violência.
Houve há algum tempo uma exposição de roupas usadas por mulheres quando estupradas.
Ao contrário da fantasia de que vestiam praticamente nada no meio da cidade, vestiam, na verdade, roupas as mais discretas.
Outra fantasia é a de que as mulheres estupradas são sempre jovens.
Basta conversar com psicoterapeutas, médicos(as), enfermeiros(as) que atendem pessoas que sofreram violência para ver que não é assim.
A questão está na educação que, como sociedade, oferecemos, atribuindo a homens direitos que eles não têm, por simples questão de justiça.
Nosso trabalho é lutar contra o mal na fonte.
Ao ouvir barbaridades, temos de interferir.
Educar.
Ah, mas ela pediu… com aquela roupa…
Não, ela não pediu. Pode ser que goste simplesmente de roupa da moda.
[Uma lembrança, aqui.
Nós, depois dos sessenta, vivemos a época da minissaia.
Eu usei! Com certeza, porque me achava linda. E você?]
Ah, mas ela xinga ele.
Certo, xingamento não é legal.
Então, vamos ver como lidar com isso. Com sopapos, com certeza, não é.
Vou propor um exercício: anotem nos comentários o que vocês ouvem que diminuem as mulheres e como podemos responder.
Com certeza, um exercício de cidadania.
Abraço.
Vera Vaccari