Vi de pertinho uma mãe rinoceronte e seu filhote, em um parque na África do Sul.
Estava tão perto, que parecia que bastava estender a mão para tocá-la.
Ela me olhou, viu que eu era inofensiva, protegida dentro de um grande veículo, e voltou a fazer suas rinocerontices.
E eu fiquei ali, admirando seu tamanho e como ela cuidava de seu bebê (enorme, nem preciso dizer).
Depois, olhando a foto daquela montanha viva, pensei: é uma pena que a esperança não seja um rinoceronte.
A gente vai vivendo; vendo e passando por coisas duras, difíceis; enfrentando situações que nunca imaginou…
Separação, morte de alguém, demissão, dificuldades com a família…
As dores se acumulam, a respiração estreita…
Não adianta dizer que a vida é bela e que tudo vai melhorar.
Mas, lá no fundinho, em algum lugar escondido, uma sementinha, do tamanho de um pingo no i, se faz presente.
Tão pequenininha, coitada!, com certeza para nada pode servir.
No passado, olhei para algumas assim e acabei por achar que nada valia — e soprei.
Demorou para entender que ali, naquela coisa do tamanho da ponta de alfinete, estava algo muito grande, que insistia em voltar.
Hoje, quando a reconheço, devagar, vou regando, protegendo do sol forte dos problemas.
Ela cresce, dá uma plantinha…
E seu nome é esperança.
Não aquela da adolescência, tamanho rinoceronte, de que tudo ia ocorrer como eu desejava.
Mas aquela da certeza de que cheguei até aqui porque pude.
Porque tenho força, porque aguento…
Porque é importante lutar por um mundo melhor.
Mesmo que apoiada às vezes apenas em algo do tamanho de um grão de areia.
Vera Vaccari