Pra comemorar os meus setentas bem vividos!
De mechas cor de rosa e tudo!
Setentei!
Os meses – e depois anos e, mais ainda, décadas foram se juntando sem que eu visse.
Perdida na névoa, às vezes do amor; outras, da dor, não vi o tempo escorrer, muito devagar ou ao contrário, num redemoinho.
Um dia, ria, nos joelhos do meu pai.
Outro, era adolescente, querendo ser o que não era, baixinha, cabelos lisos rosto sem espinhas…
Tapava os ouvidos desesperada, pois queria apenas ler – e não aprender a costurar, cozinhar, limpar.
Um passo e lá estava a moça chocada ao descobrir a sexualidade. Probida, mas atrativa, claro! O que faço com isso?!
Depois, era aquela que corria do trabalho pro curso noturno – desses anos só me lembro do cansaço.
Aí abriu-se um mundo de possibilidades.
Fui atrás do novo, do sonho da esperança.
Encontrei amizades, construí sonhos, destruí fiz outros…
E os anos lá, juntando-se.
Veio carreira, consultório, aulas… sexualidade e psicologia… casamento, descasamento, casamento de novo…
Lutos muitos de pessoas e de sonhos.
E a areia escorrendo, sem parar.
Olho a pilha toda de décadas e a abraço.
O bom e o mau me fizeram chegar a ser quem sou.
Não sei quanta areia ficou na ampulheta da minha vida.
Mas sei que isso não importa.
O que importa é que quero viver as minhas verdades.
E deixar brilhar quem eu sou.