De repente, me senti menina.
O cheiro do frango cozido me atraiu.
Olhei da porta da cozinha e meus pais cozinhavam para mim.
Meu prato predileto de domingo: sopa de capeleti.
Tudo tão vivo que estiquei a mão para roubar um pedacinho.
A massa estava esticada e me adiantei para realizar a minha parte: colocar o recheio.
Sabia que estava no consultório, preparando um texto para o blog.
Mas ao mesmo tempo estava lá, há 60 anos no tempo.
Menina e idosa se encontram em meu coração.
Convivem, às vezes de uma forma legal; outras, às turras.
Mas sei que da menina recebo a esperança e a força que me faz ir adiante.
Da idosa, a menina aprende que nada vem de mão beijada.
É preciso esforço.
Para conquistar direitos.
Para estar de bem comigo mesma.
Para estar de bem com o mundo, com tantos problemas à volta.
E esforço para amar e também para ser amada.
Dar e receber amor — o maior presente de todos.
Vera Vaccari