A festa do Apóstolo Tiago é celebrada no dia 25 de julho. Padroeiro da Espanha, pelo século IX, já o cristianismo fortalecido na Península Ibérica, a cidade de Santiago de Compostela, na Galícia, no mapa bem acima de Portugal, tornou-se centro de peregrinação ao identificar lá o túmulo do apóstolo Tiago, de acordo com a tradição. Até hoje multidão de peregrinos percorrem os diferentes caminhos (francês, português, do Norte, etc.) que levam a Santiago. No mapa, vemos o final desses caminhos que vão convergindo para Santiago. A pé, cavalo, bicicleta, trem… 800, 300, 200 kms ou menos (para receber o certificado de peregrino mínimo de 110 kms, já na Galícia). Tudo vale para poder chegar na catedral e abraçar a estátua do Santo, assistir missa, ver a dança do botafumeiro (incensário\turribulum imenso acionado por várias pessoas e que também ajudava a diminuir o cheirinho dos sofridos pés peregrinos) e agradecer…
Ainda se ouve falar que todos os caminhos levam a Roma. De fato, as famosas Vias romanas como a Appia, Aurélia, Augusta na Hispânia percorriam o império romano chegando a 80 mil quilômetros no século II. Assim os diversos caminhos levam a Santiago e seus peregrinos carregando pouca bagagem e muitos sonhos, promessas, reflexões e buscas. Vera pretende fazer de trem o caminho português. Cirurgia ainda não dá para fazer a pé.
Às já batidas perguntas de onde viemos e aonde vamos juntam-se o sentido da vida, o olhar para si, a procura de si mesmo. Quem sou eu. Procuramos respostas a perguntas que nem sempre já lembramos.
É um caminho, uma experiência. Muitas versões apresentadas em filmes, reportagens, livros, crônicas…. Às vezes, e de preferência, em bem pequenos grupos para facilitar interiorizar-se pois é o momento de olhar para si, para o próprio mundo. Talvez a sede desse mundo espiritual, “onde Deus está mais dentro de nós do que nós mesmos” que dizia Santo Agostinho, e que completava com o famoso “rede te ipsum, não procure fora, volta-te sobre ti mesmo, no interior do ser humano está a verdade, tua verdade…”. Inúmeras narrativas dão conta dessa experiência e mudança de quem o percorreu.
Assim como as vias romanas tinham indicações de distância e de quem as mandou construir ou consertar, no caminho o peregrino encontra muitas indicações (como a setas amarelas, desenhos de conchas de vieira, cajado…), além de pousadas, albergues comunitários de apoio. Para descansar e para cuidar dos pés, partilhar com outros e se animar a prosseguir.
Assim é também nossa busca nessa peregrinação à procura de nós mesmos. É preciso, porém, saber ver e encontrar esses sinais, seguir essas marcas, avançar, caminhar. Se preciso, contar com apoio externo. Mas sempre assumindo e assumindo-se. Avançando e celebrando as conquistas pequenas para que a chegada seja de fato uma grande alegria.
A pouco quilômetros da chegada há um pequeno monte desde o qual se divisa Santiago: Monte do gozo. Gozo, sim, de disfrutar, celebrar, se alegrar pois já dá para ver que está chegando. Está se conhecendo melhor. E na chegada aquele abraço ao santo será com certeza também um forte abraço a você mesmo. Parabéns.
Aproveite e toma um bom café da manhã com chocolate e a famosa torta de Santiago. Você merece. Você está tornando realidade o Conhece-te a ti mesmo, dos gregos.
Valeriano