Uma amiga e colega me pediu que falasse disso aqui: a velhice de idosos sem filhos.
Luciene, você perguntou e você respondeu.
Mas, vamos por partes.
Nem todas as pessoas idosas têm filho ou filha.
Filho não garante cuidado com os pais mais velhos.
Há filhos que cuidam.
Há filhos que não cuidam.
Há filhos que querem cuidar, mas não podem.
Há filhos que podem, mas não querem cuidar.
A questão é muito séria, dado o envelhecimento da população.
Antes de mais nada, temos de considerar como foi o relacionamento durante a vida toda.
Esses pais, ou esse pai, ou essa mãe, cuidaram dos filhos da melhor forma que puderam?
Nem sempre o não querer cuidar é problema de egoísmo.
A pessoa pode até ter se sentido rejeitada a vida toda.
Outra questão é que o peso sempre recaiu — e continua recaindo — sobre as filhas.
Já contei aqui no blog sobre mulheres que se aposentam e não contam para a família, para continuarem participando do cuidado com os pais e não sendo forçadas a assumir sozinhas.
Principalmente se forem solteiras, vão acabar tendo de assumir sozinhas.
Só isso já é tema de milhares de estudos: a mulher que se aposenta e vira cuidadora dos pais, sem que ninguém da família se preocupe com elas.
As moradias nas grandes cidades também são um fator de complicação.
Vejo as propagandas de apartamentos: a metragem diminui e o preço sobe.
Ah, a questão econômica é um problema.
Aposentadoria nem sempre cobre os gastos da pessoa idosa, com tratamentos e medicamentos.
O SUS é um caminho importante, garantido na Constituição, mas sabemos como está sendo agredido na atual gestão.
Empobrecimento, desemprego, inflação alta… nem sempre se pode fazer o que se deseja.
Há algumas saídas vislumbradas.
Os antigos asilos para pessoas pobres foram se transformando em casas de repouso, moradias e não sei mais que nome.
Vejo propaganda de casas de idosos, mas parecem de alto custo.
E de pessoas idosas que se juntam, para diminuir custos. Mas, em todas as reportagens que vi, ninguém vivia de aposentadoria baixa.
São tantas as questões, e tão complexas, que cada uma teria de ser trabalhada em separado.
Mas fica claro que temos muito chão pela frente, enquanto sociedade.
A questão não é se filhos ou filhas cuidam de seus pais, mas, sim, se nós, enquanto sociedade, cuidamos de nossos membros.
Ou seja, saber se estamos preocupados em discutir saídas — ou se vamos apenas dizer que idosos são atraso de vida para o INSS (nem quero pensar na saída “escondida” nessa afirmação).
Vera Vaccari