Dizem que a avestruz, para se esconder, enfia a cabeça num buraco, ficando com o corpo todo de fora.
E, enquanto sociedade, brincamos de avestruz, quando nos recusamos a discutir aborto.
Enquanto isso, milhares de abortos são feitos todos os dias, seja em clínicas utilizadas por quem tem dinheiro, até com o uso de medicamentos e beberagens perigosas, que podem colocar a vida em risco.
Não deixa de ser tragicômico ver homens defendendo o tal “direito à vida”, sem dar voz às mulheres, as mais diretamente envolvidas no tema, por assim dizer.
A decisão de abortar não é fácil, nem leviana.
São muitas as questões envolvidas na decisão.
Uma delas é o companheiro — ou falta dele.
Salta à vista que muitas mulheres abortam por falta de apoio de quem a engravidou, que muitas vezes paga pelo procedimento. E esse mesmo homem não é penalizado, em caso de denúncia.
Então, na hora do discurso, ouvimos o homem.
Na hora da penalização, prendemos a mulher.
Uma incoerência, não?
Mas a incoerência maior está na deficiência de acesso a programas de educação sexual desde a infância, explicando o adequado a cada idade.
Isso, sim, seria valorizar a vida.
Mulherada depois dos sessenta, vamos lutar para mudar esse quadro!
Somos mães, avós, tias, amigas… e vemos todas as dores relacionadas ao tema da sexualidade e da reprodução.
Temos muito a participar na luta pelos direitos.
Ou podemos continuar defendendo um moralismo sem cara, sem respeito e sem coração.