Impressionante como a infância vem sendo cada vez mais agredida nestes tempos.
Não levar crianças para tomar vacina, não dar condições durante a pandemia para crianças pobres terem acesso a merenda escolar e a condições adequadas de ensino à distância, aumento do desemprego e da fome nas famílias, o que envolve crianças… a lista é imensa.
Nem parece que temos uma legislação que defende a criança e o adolescente e buscar dar-lhes melhores condições de vida.
O moralismo gosmento levantou a cabeça mais uma vez, entre muitas, quando uma juíza impediu que uma menina de 11 anos passasse por um aborto legal.
Chamo de gosmento porque penso naquela lama em que a gente afunda o pé e, quando consegue sair, o tênis ficou. É algo que puxa para o lodo. Depois de muita luta, o direito ao aborto, pelo menos em condições de estupro e outras situações especiais, está garantido na legislação.
Mas há quem, para defender uma moralidade, comete uma imoralidade, colocando em risco a vida de uma menina, uma criança.
No caso, outras instâncias da Justiça foram acionadas, garantindo à menina o exercício de um direito.
Mas fica um sabor amargo, não fica?
Parece que, em vez de ampliar direitos, seguimos o rumo contrário, enlameando caminhos que poderiam ser mais facilmente transitados.
Não oferecemos educação sexual adequada a cada idade, não ensinamos meninas e meninos a se defenderem de abusos, não explicamos a responsabilidade ligada ao exercício da sexualidade.
A desculpa?
Estamos protegendo as crianças.
Sim, “protegendo-as” de viver como crianças.