Uma das minhas amigas foi deixada pelo companheiro de muitos anos, que foi viver com uma mulher mais jovem.
Poucos meses depois, ela comentou comigo que o antidepressivo receitado pelo médico não a estava ajudando.
Perguntei a ela se estava mesmo com depressão ou se na verdade não estava vivendo um momento de grande tristeza — e de raiva.
Imagino a sensação de ouvir que está ficando velha e que não acompanha mais o que o ex-marido queria fazer. Além da tristeza pelo abandono, eu morreria de vontade de dar-lhe um pontapé no… hã… em algum lugar em que doesse muito. Não faria, mas o fato de reconhecer a vontade já me ajudaria a sair da raiva.
Parece que estamos confundindo muitas vezes depressão, que é uma doença e requer tratamento, com tristeza, uma dor profunda, da alma ferida.
Uma grande perda pode contribuir para uma depressão que já estava ali, muitas vezes despercebida.
Mas parece que vivemos em uma sociedade que prefere ver doença em vez de pura dor.
Não admira que o consumo de antidepressivos e outros medicamentos, que deveriam ser tomados por curtos períodos, está aumentando.
Não nos permitimos falar que estamos sofrendo por alguma situação.
Parece vergonha dizer que estamos sofrendo pelo abandono, pelo distanciamento de alguém amado, pela morte de pessoa amiga ou da família, pela perda de uma situação confortável, como no caso do desemprego ou outra.
Se vamos entrar nessa, a saída fica mais difícil e mais distante.
Olhar para nós mesmas e reconhecer a dor, aceitar que só não sentiríamos se fôssemos feitas de pedra, é um bom começo.
Falar disso com alguém de confiança, procurar uma psicoterapia, entrar em algum grupo com pessoas que sofreram grandes perdas também pode ajudar a elaborar essa emoção.
Emoções não são superadas com medicamentos, mas com aceitação.