O tempo todo falamos de respeito à diversidade, à importância de todas as pessoas terem seu espaço em uma sociedade democrática.
Esse é um tema muito especial para nós, mulheres mais velhas, pois somos muitas vezes desconsideradas em nossos conhecimentos e experiência de vida — por sermos mulheres e por sermos mais velhas.
Mas o tema da diversidade é amplo e envolve muitas situações.
No mercado, Valeriano e eu fomos ajudados no caixa por um adolescente com síndrome de Down, todo atrapalhado devido à ansiedade de agradar.
Conversamos, orientamos, acalmamos o rapaz, que nos acompanhou à saída para nos agradecer pela paciência.
Entendemos pelo jeito dele que muitas pessoas não têm paciência, mas é possível se apressar sem destratar ninguém.
Podemos dizer: vou arrumar aqui os pacotes do meu jeito, porque estou com pressa. Outra hora você me ajuda.
Ou outra forma gentil de falar, se naquele momento não podemos dispensar nem ao menos dois minutos para alguém que está se desdobrando para ser gentil.Essa situação foi importante para mim, pois mostrou algo que me pareceu um grande atraso do nosso País.
Explico.
Tivemos recentemente um ministro da educação (assim, com minúsculas, mas posso dizer Ministro da Deseducação, em maiúsculas) que teve a ideia de separar as crianças com algum tipo de deficiência das demais, pois, segundo ele, atrapalhariam.
Isso não foi o mais chocante, pois preconceitos existem em todos os lugares e vêm muitas vezes de quem mais deveria lutar contra eles.
O mais chocante foi a casa não ter caído.
O mais chocante foi ler protestos de instituições, sem que fossem acompanhadas de cidadãos e cidadãs deste nosso imenso e maravilhoso País.O mais chocante foi perceber o como parece que estamos meio que anestesiados, aceitando a barbárie como “normal”.
Se vamos chegar a aceitar que uma criança ou adolescente atrapalha, em vez de enriquecer com sua presença, estamos com um pé afundado na lama.
Daí percebemos como todas as lutas contra os preconceitos se juntam.
A presença de crianças e jovens enriquece idosos e idosas, porque pessoas enriquecem pessoas.
E, no fundo, ninguém é normal.
Todos temos no coração aquele pedacinho de medo de não sermos aceitos.
Vamos começar aceitando os demais.
Vera Vaccari