Nasci em uma pequena cidade do interior de Ávila, Zapardiel de la Cañada. Família de pequenos lavradores. Tinha também uma padaria. Tudo era feito à mão ou com animais (burros, cavalos ou vacas).
No campo sempre há trabalho a fazer. Mas, no verão, era dureza. Férias escolares. Todos trabalhando na colheita, adultos e crianças. Sem esquecer da missa aos domingos que o bater dos sinos nos convidavam.
Uma das promessas do pai, sempre cumprida, era a de podermos participar das festas de final de agosto, em Piedrahita. Linda, charmosa, simpática, alegre… na beira da Serra de Gredos. Era nosso lugar do desejo. Barraquinhas, brinquedos, doces, pastéis, frutas… e uma feira de compra e venda de animais, vacas, bezerros, cavalos, porcos, cabras… de tudo.
Cortando por veredas e caminhos de terra íamos bem cedo, em dois burros ou cavalos. Umas duas horas para chegar. Amarrar na sombra os animais onde havia água e comida para eles (estacionamento de animais!!) e se mandar para a folia era um minuto só. O ‘orçamento’ era curto mas a felicidade certa. Um dia que passava rápido. Na praça com pórticos, Igreja e ninhos de cegonha; corridas pelas ruas e ida à feira. Merenda garantida, a família junta na relva. Dia completo.
O retorno era de noitinha. Cansados, com alguma lembrança, brinquedos, frutas diferentes e até dormindo montados nos animais, mas felizes. Sem preocupação pois eles sabiam o caminho de volta mesmo de noite.
Por que falar disso agora e de eleição? Há um ditado que se repetia entre os adultos na volta dessa feira. “Fala-se da feira de acordo como nos foi nela”. Vendeu? Comprou? Fez negócio?…
Esas festas de agosto opor lá me lembraram o momento político que nós estamos vivendo. Debates, entrevistas, pesquisas de todo tipo e em todo lugar. Panelaços, curtidas… E eu acho tudo isso muito bom, sinal de cidadania, de respeito, de dar oportunidade igual, embora acaba cansando. Nem dá para concordar com tudo, claro.
Tenho minhas escolhas, que não vem ao caso aqui. Mas vendo comentários em TV, redes e conversas, chama a atenção como cada um fala sobre os fatos, especialmente sobre as entrevistas ou debates televisivos e pesquisas. Cada um tem sua tradução\versão deles. Eu digo que é um jogo ainda em andamento com vários placares. 3 a 0 para o primeiro, 0 a 0 para os dois ou 2 a 0 para o segundo, depende do torcedor\militante\simpatizante. Quase sempre sem pouco ou nada a mudar daquilo que já é a própria opção, decisão etc… bem tomada e assumida.
De fato, é mais do que óbvio que todo ponto de vista é uma vista desde um ponto. Esse ponto é o de cada um de nós. E é importante também para cada pessoa. Para mim e para o outro. Discutir\falar de futebol, de política, de religião, de família etc., deve fazer parte da vida de todos. Por que não? Somos sujeitos políticos, cidadãos, membros de uma família e moradores em determinado espaço e cultura. Importante, porém, é respeitar, defender e torcer até na hora do voto. E depois aceitar o resultado daquilo que a maioria decidiu. O placar pode ir mudando antes, pela nossa avaliação, mas é um só ao final desse importante e sério jogo, dessa peleja pela via das urnas que não está decidida e nem será fácil até o apito final.
Termino com o poeta Campoamor que dizia: “Nada es verdad, o mentira, todo há de depender del color de los ojos de quien mira…”
Valeriano
Foto destaque: Igreja da Praça Maior de Piedrahita.