Outro dia falei de casal sem filhos — e depois me lembrei de uma coisa que acho importante.
Escuto muitas mulheres reclamarem que filhos e filhas estão preocupados com estudo, com trabalho, deixando para depois a maternidade ou paternidade.
Já perto dos 40 anos e nunca tendo engravidado, procurei um programa de fertilidade no serviço público.
Um dia, na sala de espera de um exame, sentei-me perto de uma moça.
Papo vai, papo vem, contou que tinha 19 anos, casada há dois, não tinha ainda engravidado.
Era por isso muito cobrada, tanto pela própria família quanto pela do marido.
Os pelos do meu braço ficaram arrepiados.
Por pouco, não comecei a gritar de horror.
Uma menina que deveria terminar o que na época era chamado de segundo grau (só tinha até a 8a. série) era levada a um programa de fertilização.
Nunca mais a vi, mas, conversei ao longo do tempo com muitas mulheres que se sentiam pressionadas a engravidar.
Algumas queriam, mas, outras, preferiam aguardar ou até mesmo não ter filhos.
E é da pressão que queria falar.
Envergonho-me de dizer que já perguntei a filhos e filhas de pessoas amigas, com quem tinha alguma intimidade, se pensavam em gravidez.
Como se isso não fosse uma forma de pressão. No caso, por alguém que não tinha nada de ver com o assunto.
Mas, mesmo que tivesse filhos e desejo de ser avó, não seria direito.
Assim como tomei muitas decisões na minha vida, acho que todas as pessoas têm direito de escolher o melhor para si (desde que não afete o direito dos demais, claro).
Então, mulheres depois dos sessenta, também pressionam mulheres jovens ou, ao contrário, dão apoio para que vivam como acharem melhor?
A vida está aí, em sua diversidade, que faz sua riqueza.