Hoje foi a primeira vez que se referiram a mim como senhorinha.
Na hora, achei estranho.
Depois, percebi que não me incomoda ser chamada de velha, idosa, senhorinha…
Não gosto de “tia”, pois pressupõe uma familiaridade que me deixa desconfortável.
Prefiro Vera ou senhora ou profe (como dizem meus alunos e alunas).
O que me importa é ser tratada com educação e respeito, que são devidos a todas as pessoas, não importa a idade ou se homem ou mulher.
Entendo que muitas pessoas se sintam ofendidos com o termo velha ou, ao contrário, com idosa.
Não adianta trocar as palavras, se o preconceito for junto com elas.
Então, o inimigo não é a idade, mas sim o preconceito que sofrem as pessoas idosas.
No caso de mulheres, dois preconceitos se juntam, dando as mãos, com alegria: o de ser mulher e o de ser idosa, velha, senhorinha.
Então, nossa luta pelos nossos direitos tem essas duas frentes, além de outras, claro, no caso das mulheres idosas negras ou índias, que sofrem devido a três preconceitos: o de ser mulher, o de idade e o de cor da pele.
O que importa é o que queremos, tanto para nós quanto para outras mulheres, em especial as mais jovens, que estão ainda com a vida toda pela frente.
Mas, para querer, temos de refletir: o preconceito vem só de fora, da sociedade, ou vem também de dentro, das ideias que aprendi e que uso todos os dias para me impedir de ir adiante com o que quero ou que também uso para impedir que outras mulheres possam ir adiante?
Sim, amiga, temos de ter isso bem claro: nós também temos preconceito quando nos podamos por causa da idade.
Não vou usar esse vestido…
Não vou pintar as unhas de vermelho…
Batom vermelho é indecente…
Viajar sozinha, só quem não tem família…
Meu filho, meu neto, minha filha, minha neta, minha vizinha, meu sei-lá-o-quê disse que não posso/não devo fazer … (aqui, você escreve o que queria fazer e foi impedida).
Não, flor, na nossa idade não tem nada a ver.
Não estamos ficando mais jovens a cada dia.
Vera Vaccari