Sei que se der a mim mesma algum tempo, vou reconhecer a fonte dessa sensação e poderei lidar com ela.
Coloquei a princípio na conta das festas de fim de ano, quando, ao lado da celebração da alegria, também vivemos a solidão, a frustração e, mais dolorido, a lembrança dos tempos passados (enfeitados na nossa lembrança) e das pessoas que já partiram.
Fiz um percurso mental pelos antigamentes, como diz um tio meu, mas não melhorei.
Por fim, em um intervalo entre leitura de trabalhos de final de curso e consultório, saí com Valeriano e Cacá para caminhar após o almoço.
E a gastura se fez tristeza!
Na véspera, Valeriano havia comentado que as casas vendidas, no quarteirão, estavam em pleno processo de demolição.
Sem ninguém nas casas, até as orquídeas, que havíamos plantado nas árvores e cuidado durante anos, haviam sido arrancadas de qualquer jeito, deixando para trás as raízes.
Lembrei-me de uma expressão do filósofo Karl Marx: tudo que é sólido desmancha no ar.
E ali onde havia gente, em casas, estavam apenas escombros, abrindo espaço para prédios.
Enfim, coisas do nosso mundo.
A permanência possível é a que vivemos no coração, com as memórias que guardamos.
Vera Vaccari