Minha mãe esteve muito bem até perto dos 90 anos.
Saía sozinha, vinha de trem de São Caetano a São Paulo, para passar o final de semana no sítio, onde pescava, cuidava das galinhas, caminhava…
Aos poucos, foi mudando sua rotina, até que chegou o dia em que não queria mais sair.
Sentia-se sozinha, pois era a única de sua geração que havia ficado. Só tinha ainda uma irmã, perto dos 90. As outras irmãs, amigas, conhecidas, vizinhas… todas já haviam partido.
Mas mantinha o astral, contando causos de sua infância e juventude.
Aos poucos, começou a reclamar de ansiedade, de insônia, de medo.
E começou a comentar atrocidades, assassinatos, roubos, estupros…
O geriatra receitou antidepressivos, mas a situação não mudou.
Até que…
De repente, fez-se a luz.
Meu irmão chegou para vê-la e ela estava diante da TV, que apresentava um desses programas do início da noite, feitos para aterrorizar.
Neles, um caso é contado, recontado, repetido, esmiuçado, analisado… até a exaustão.
Ele conversou com ela e a convenceu de parar de ver esses programas na televisão.
E não é que ela melhorou?
Não estou dizendo que esses programas tinham toda a responsabilidade sobre a ansiedade dela, mas sim que, por sua dinâmica, contribuíam para aumentar o medo e a preocupação.
Assim como hoje vemos mensagens contra a vacinação, que aterrorizam, principalmente no caso de mães e pais, preocupados com suas crianças.
Somos responsáveis pela higiene da nossa mente.
Não dá para lavar a mente com sabão e alvejante, mas dá, sim, para buscar equilíbrio.
Uma das formas de buscar esse equilíbrio é exercendo a crítica.
Estar em dia com as notícias, sim. Somos cidadãos e cidadãs do mundo.
Mas, acima de tudo, saber de onde elas vêm, se têm por objetivo a informação correta, o crescimento, a construção da paz e da saúde, ou se apenas buscam tumultuar, destruir, criar o caos.
Nesse caso, o sabão e o alvejante estão nas cabeças de cada um de nós, que vamos usá-los para o bem, para a saúde mental – nossa e de quem está à nossa volta.
Vera Vaccari