Fazer planos é bom e necessário, pois é, juntamente com o esforço, o que nos permite alcançar o que desejamos.
Mas só podemos garantir o agora, este exato momento, pois o momento seguinte pode mudar tudo.
Essa ficha me caiu um dia, com tanta força que quase machucou meu pé.
Foi por causa de um filme, nem me lembro qual.
Uma mulher, casada com um viúvo, mostrava para amiga as coisas da falecida, com comentários depreciativos.
Naquele momento, Valeriano e eu sonhávamos com o apartamento próprio e fazíamos grandes economias.
E eu ainda por cima aguentava a gozação dele, pois comprava coisas para a nova moradia, mostrava para ele e guardava.
Tinha até mesmo aprendido a bordar arraiolo e bordado lindos tapetes para a sala e para o quarto que um dia teria.
De repente, a ficha.
O quê?!
Tanto sacrifício para um dia alguém dizer que eu tinha mau gosto?
Nem morta!
Naquela mesma noite, Valeriano, que fazia um curso, levou um susto ao chegar.
Até achou que tinha entrado no apartamento errado!
Tapete arraiolo no chão da sala, quadros novos nas paredes, manta bordada no sofá…
Mesa arrumada com toalha fina, porcelana e talheres do faqueiro.
Toalhas novas no banheiro.
Quarto com tapete arraiolo, colcha maravilhosa, lençóis de linho…
Tentei explicar, mas achei muito complicado.
Só disse que tinha cansado de ter tudo aquilo à mão, sem usar, como ele sempre dizia.
Você me convenceu, amor.
Nunca me senti tão falsa quanto ao dizer essas palavras.
Mas ainda sigo a prática.
Planejo viagens, economizo, preparo…
Penso nos dias da velhice e da aposentadoria.
Mas sempre sei que o dia é hoje, a hora é agora.
Depois, só Deus sabe.
Vera Vaccari