Saía do shopping Bourbon e não sei se escorreguei ou tropecei; só dei conta de mim tentando me equilibrar.
Acreditei que ia conseguir –mas não.
Quando o chão começou a se aproximar, lembrei-me da prótese no quadril direito e aí fiquei apavorada.
Tentei girar e assim bati todo o lado esquerdo.
Dei então conta de mim deitada, no piso do shopping, gente correndo em minha direção.
Foi essa agitação que alertou Valeriano, que seguia alguns passos à frente, de que algo estava errado.
Queria ficar um tempo deitada, quieta, recuperando o alento e só então tentar me levantar.
Já havia conversado com idosos, relatando que, antes da dor, vinha a humilhação.
Senti tudo isso – humilhação e só então dor no ombro e nos joelhos.
Comecei a chorar, mas a máscara me escondeu dos olhares de pena.
Valeriano conseguiu afastar as outras idosas, de cabelos brancos, que tentavam me erguer. Ajoelhado ao meu lado, perguntou se eu queria tentar levantar.
Pedi mais um tempo, até tomar conta de mim, avaliar se tinha me machucado.
Mas não consegui.
Parece que é errado dar um tempo para a pessoa se recuperar, respirar…
Um segurança também veio rapidamente para me erguer.
Valeriano disse que ia ajudar e, entre os dois, me levantaram.
Nem olhei em volta.
Agradeci rapidamente o segurança e saí quase correndo, segurando o braço do Valeriano.
No caminho, fui lambendo a ferida do orgulho.
Entendo que a queda, no caso de todas as pessoas, pode causar danos, mais severos, em geral, no caso de idosas.
Mas descobri que, antes de tentar erguer a pessoa, é preciso dar um tempo a ela, para se recuperar do susto.
Já tentei socorrer idosos que caíam nas calçadas irregulares deste meu bairro da Pompeia.
Vivendo e aprendendo.
Vera Vaccari