Meio quarteirão foi vendido e meus vizinhos se preparam para mudar. Logo tapumes, começando quase ao lado da minha casa, ocuparão o lugar de muros e portões e não haverá mais trocas de ideias enquanto se varre a calçada.
Em um par de nãos, um novo edifício vai ser apresentado como a maravilha da Pompeia, com apartamentos com escassos metros quadrados pagos a peso de ouro. Por sorte minha, o novo prédio não vai impedir nem o sol e nem a lua de brilharem no meu pequeno pedaço de chão.
Mas sei que no futuro seremos assediados, pois estamos em um local privilegiado: perto da futura estação do metrô, a quatro quarteirões do shopping Bourbon e do Sesc Pompeia, esse prédio maravilhoso que ganhou um prêmio internacional e onde dezenas de atividades são realizadas diariamente.
Sei também que as incorporadoras pagam apenas pelo terreno, não pelo tamanho da casa. Para morar em um apartamento da metade do tamanho da minha casa, teria de mudar de bairro.
Saí de apartamento devido ao custo mensal do condomínio. Vejo pelos anúncios valores altíssimos, em especial para quem um dia vai viver da aposentadoria do INSS.
Pessoas já aposentadas ou em vias de se aposentar vivem preocupação semelhante, pois não dá para aumentar a renda de um dia para o outro – e, às vezes, nem em muito tempo. E, com a chegada de novos prédios, o bairro vai valorizar, o que significa IPTU mais alto, sumiço dos pequenos comércios, devido ao aumento dos aluguéis, preços mais elevados em supermercados.
Isso sem falar do trânsito, que hoje se arrasta por estas ruas, e os serviços urbanos, de limpeza, água e esgoto.
Há quem afirme que isso é progresso, mas progresso significa mais qualidade de vida e não menos: mais cidadania, mais espaço, menos sujeira, menos poluição.
Não dá para deter esse processo, mas pelo menos poder lutar para que seja menos destrutivo.
Vera Vaccari