Conversando com uma senhora idosa, bem aqui no meu quarteirão, nestes dias pós-vacina, ela me contou seu grande sofrimento por já não conseguir caminhar como antes, devido a um problema ortopédico.
Fez uma lista de todas as viagens do passado, contou de suas caminhadas, das escadas que subia e descia para visitar as torres das catedrais e castelos.
Não disse uma palavra sobre a vista a partir do topo de uma daquelas torres, sobre a sensação de subir os degraus, tão maltratados por milhares de pés no decorrer dos séculos, sobre a sensação do sol ou da chuva ou do vento.
Estava presa a uma única ideia: não ia mais poder caminhar como antes, nem subir e descer escadas.
Um dos maiores sofrimentos humanos é a luta entre o que queremos e a realidade.
Há, sim, sonhos sobre o que almejamos conseguir, sobre a vida que nos esforçamos para levar.
Nesses casos, estabelecemos a meta, nos esforçamos, replanejamos e vamos em frente.
Se atingimos o objetivo, ótimo.
Se não, vivenciamos a frustração, vivemos o luto e vamos em frente.
Mas há coisas que não são possíveis.
Nesses casos, colocar o pé no chão, para avaliar e decidir se há maneira de tentar novamente ou se é melhor mudar de objetivo.
Sempre gostei de caminhar, mas o que posso ou não fazer mudou nos últimos cinco anos.
Nas fotos, mostro alguns momentos: uma caminhada com a Pisa Trekking pelas montanhas de Minas Gerais; um passeio pela região de Salta, na Argentina, já usando uma joelheira especial, por causa da artrose do quadril; um momento feliz: de andador, pós-cirurgia; e andando pela Pompeia, num domingo de sol.
Não vou mais fazer trekking nas montanhas, pelo menos não daquela forma, mas sim algo mais leve, por um caminho e não entre pedras. E não vou fazer outros passeios como os que fiz no passado.
Mas tenho outros passeios a fazer.
Nem que seja olhando de baixo enquanto Valeriano e minhas amigas sobem por pedras e escadas longas.
Sem pé no chão, com a ideia no que foi, deixamos de curtir o que é.
E a vida é muito curta para isso.
Vera Vaccari