Estava passando alguns meses em um local de dificílimo acesso. Só de canoa, eram quase dois dias remando, a partir de uma cidade em que era possível chegar de avião.
(Como lembrete, esses povos, que parecem distantes para nós, sofrem há anos pressão dos que querem destruí-los e se apoderar de suas terras.)Mas o causo aqui é que era aniversário da Ju e não havia como cumprimentá-la, pois o telefone mais próximo ficava a dois dias de distância, ali mesmo onde chegava o avião.
Eis que toca o telefone e ela diz: Tô ligando pra você me desejar feliz aniversário. Cheguei agora, abri a agenda e estou ligando de amigo em amigo. Não quero ficar deprê, sem receber cumprimentos das pessoas a quem amo.
Recebi uma bruta lição ali, que às vezes ainda me é muito útil.
Sabemos que a depressão é uma doença que envolve muitos fatores: físicos, emocionais e sociais.
Mas sabemos também que é mais comum no envelhecimento, por diferentes razões.
Há casos em que medicamentos antidepressivos podem ser muito úteis, mas não resolvem o problema, se outras causas não forem atacadas.
Aliás, costumamos confundir depressão, que é uma doença, com tristeza, tédio, cansaço…
Falta de uma atividade de interesse, distanciamento da família, solidão… são situações que nos fazem mal.
Todos nós conhecemos pessoas que colocavam o trabalho acima de tudo. De repente, a aposentadoria chegou e essas pessoas de repente viram que perderam dinheiro e prestígio. Não sabem o que fazer com o tempo livre e nem sempre haviam construído relações de proximidade nem com a família.
E quem se compara, aos 50, 60, 70 anos, com o corpo e a energia dos 20, 30, 40 também está fazendo um buraco – no qual vai tropeçar e afundar.
Envelhecemos, nosso corpo muda, nosso rosto muda, nossas necessidades mudam, nossas possibilidades mudam… E vão mudar ainda mais, conforme os anos vão se acumulando.
É uma lei da natureza, a qual não podemos mudar, mas podemos nos esforçar para viver bem.
Se acompanha programas sangrentos na televisão, deixe de fazê-lo agora mesmo! Em vez de mostrar a realidade, esses programas manipulam as emoções das pessoas, para ganhar dinheiro e audiência.
Se não tem uma atividade de interesse, procure:
— cuidar de plantas, nem que seja em um único vaso no canto da sala, pode ser interessante,
— fazer algum tipo de artesanato,
— participar de algum clube de leitura pela internet. Se você tem autor(a) preferido(a) já pode dar o primeiro passo e vai encontrar muitas pessoas com quem conversar sobre a obra que lhe agrada,
— procurar outros grupos de interesse na internet, pessoas que se interessam pelos mesmos assuntos que você: pesca, viagens, história do Brasil, história antiga, numismática, arqueologia… São inúmeras as possibilidades,
— mexer-se, colocando a máscara e dando a volta no quarteirão; subindo e descendo escadas; sentando-se e levantando-se do sofá várias vezes; espreguiçando-se…
Mas é importante usar com sabedoria as redes sociais, para não acreditar que todo mundo vive alegre e feliz, menos você. Deixe de lado essas postagens e veja aquelas que mais lhe interessam.
Mas um pouco de autoanálise também pode ajudar: a família está distante, ninguém liga ou visita. Por que será? Se Maomé não vai à montanha, a montanha vai a Maomé, diz o ditado. E se os outros também acharem que devem ficar aguardando sua ligação?
Use a técnica da minha amiga… e fuja da solidão, um dos caminhos para a depressão.
Vera Vaccari