Pergunto e vou logo respondendo.
Sim, é.
Não, não é.
Sim, se consideramos a velhice como doença, que parece ser algo agora defendido pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
E, considerar a velhice como doença leva a que apenas a juventude seja saudável, o que abre toda uma avenida para a passagem dos preconceitos etários ou de idade.
Como se todas as pessoas nascessem nas mesmas condições.
A vida depende de muitos fatores, em qualquer idade.
Há doenças decorrentes da falta de acesso à saúde, como alimentação inadequada ou insuficiente, falta de medicamentos, de moradias com água e esgoto etc.
Essa situação faz com que as pessoas envelheçam prematuramente.
Quando nós, envelhescentes, éramos ainda bem meninas, nosso grande, imenso, poeta João Cabral de Melo Neto, publicou um poema chamado Morte e Vida Severina.
Ele escreveu:
“E se somos Severinos,
Iguais a tudo na vida,
Morremos de morte igual,
De velhice antes dos trinta…”
Ele falou aqui da falta de condições adequadas a uma vida saudável, infelizmente ainda muito presentes no nosso País, que leva a uma morte prematura.
Não vou abordar as questões especiais relativas à mulheres, como falta de acesso a métodos anticoncepcionais, a parto seguro, a cuidados no puerpério.
Embora o SUS seja uma importante conquista, temos muita luta à frente para que se torne realmente universal, atendendo às necessidades da população.
E há então tudo o que afeta a pessoas de todas as idades, como doenças decorrentes das condições modernas de vida, como câncer, por exemplo, devido a fumo ou outras condições insalubres.
E ataques do coração, devido a uma vida sedentária, de muito estresse.
Isso sem contar questões relacionadas à juventude.
Homens jovens são muito mais vulneráveis a acidentes, pois costumam passar mais tempo fora de casa, com grupos de esportes e outros. Isso sem contar o que lemos todos os dias nos jornais, de morte de rapazes negros pela polícia, ataques a homossexuais etc.
Nestes tempos de pandemia, vimos que a princípio os números mostravam que pessoas mais velhas morriam em maior número, o que depois mudou.
Então, mesmo que pessoas mais velhas sejam consideradas mais próximas da morte, isso depende de muitas circunstâncias.
Então, temos de esperar a OMS explicar o que pretende com esse “morrer de velhice”, para que doenças e sofrimentos relacionados à pobreza não sejam mascarados – e todas possamos continuar nos esforçando para que a miséria, com suas primas (analfabetismo, doenças evitáveis, falta de moradia adequada…), deixe de fazer parte do futuro de nosso lindo e maravilhoso País.
Imagem destaque: Google Images