Um dia, acordei pensando: flor é bom e alegra a vida, mas horta também é.
Unindo o útil ao agradável, pensei em fazer um jirau, à moda do que aprendi nos tempos em que vivi no interior do Pará, nos idos de não sei quando.
O às vezes resolvedor de problemas e outras estraga-prazeres (= marido) ficou arrepiado com a ideia.
Lembrou-me de quando fiz um canteiro de pedras e vasos no que chamo de quintal de nosso sobradinho, contra a vontade dele.
Ficou lindo, mas imensas lesma se fizeram minhas sócias e tive de desistir.
Melhor, ele teve de desmontar e limpar tudo.
Argumentei que não ter tempero fresco à mão quando necessário é muito irritante.
Mesmo que ele cozinhe mais vezes do que eu, acabou concordando.
E lá fomos nós, sob protestos (dele) e animação (minha), comprar mudas e jardineiras.
Salsinha, cebolinha, manjericão, alho japonês, pimenta, alecrim, orégano.
Nada mais do que o básico de temperos.
Mas, arruda, boldo, onze horas, lavanda, capuchinha, tomate não fazem mal pra ninguém.
Alface, rúcula, agrião, couve, brócolis… pedia eu, os olhos brilhando.
Fui quase arrancada do viveiro, antes de aumentar a lavoura.
Com mudas, jardineiras e terra, a orgulhosa produtora rural (eu) e o ajudante faz-tudo (ele) botaram as mãos à obra.
Jardineira com pedras para drenagem, cobertas por manta bidim, pra terra não passar, terra fértil…
Maravilha, tudo em cima.
Agora, botar cada planta em seu lugar.
Até aí, ele não tinha feito comentários, o que muito me admirou, quando parei pra pensar.
Só depois de tudo pronto, perguntou onde eu ia colocar as jardineiras.
Hum, só havia uma solução, pensei eu.
Pregar cada uma no muro.
E aí surgiu a solução, que ele, claro!, tinha desde o início.
Por isso tinha concordado com a horta.
Usando um resto de escada, comprou armações de ferro para segurar as jardineiras.
E assim foi feita minha horta.
Sem salsinha e cebolinha, que se recusam a se desenvolver.
E com pimentão vermelho, que surgiu do nada.
Mas hortas precisam de adubo.
E o melhor adubo é o orgânico, certo?
Pelo Google, descobri como fazer adubo orgânico em casa, sem atrair insetos.
Mentira, ou as moscas não devem ter lido o mesmo artigo que eu e invadiram a cozinha, de repente.
Certo.
Fim do adubo orgânico doméstico.
Mas a horta permaneceu.
E nada como fazer molho de tomate à moda da mamma com manjericão fresco da horta.
E é bom olhar as mudanças trazidas pelas estações.
Há o que se acaba, o que renasce, o que permanece.
Uma lição de vida.