Você já preencheu documentos em que era pedido para assinalar seu gênero como masculino ou feminino, em um quadrinho onde antigamente a gente lia a palavra sexo?
Há até documentos em que aparecem três quadradinhos: masculino, feminino, outros.
Alguém vai comentar: Vera, que coisa estranha. Cada novidade que aparece!
Mas não é nada de tão novo. Isso começou há algum tempo — e por uma razão importante.Lá atrás, na década de 1970, mulheres feministas perceberam que o problema da desvalorização da mulher na sociedade não estava no sexo.
Era bom ser mulher, sentir-se de bem com o próprio corpo, com a feminilidade.O que não estava bem era ser desconsiderada, desvalorizada, exatamente por ser mulher (aliás, este é o nome de um livro de uma feminista, Moema Viezzer, “O problema não está na mulher”).Por isso, como forma de dizer que as mulheres não eram inimigas dos homens, mas que queriam
— ter os mesmos direitos,
— ser levadas em conta,
— estudar o que quisessem,
— candidatar-se a cargos públicos,
— participar de concursos públicos,
— ter um tratamento igualitário…
(Aproveite e complete a lista.)
Entenderam então que o problema não estava no sexo com o qual nascemos e sim no gênero, que é a educação que as pessoas recebem como mulheres ou como homens.
(Faça outra lista, observando à sua volta, de como ainda hoje tratamos meninos e meninas de modo diferente, desde pequenos.)Hoje, muito já foi feito, mas muito ainda tem a ser feito na luta contra o machismo, que destrói a felicidade e até mesmo a vida de mulheres, homens e famílias.
Para confirmar isso, nem precisa se preocupar em procurar.
Basta olhar o jornal do dia – e vai encontrar mulheres espancadas – ou até mesmo mortas, por ciúme, por quererem sair de uma relação insatisfatória, por buscar trabalho…Aos poucos, outros grupos de pessoas, que sentiam que o sexo masculino ou feminino não correspondia ao que viviam, também lutaram pela inclusão do outro quadradinho.
São as pessoas que hoje conhecemos como travestis, transexuais e outros grupos.Para essas pessoas, pode-se dizer que o sexo com o qual nasceram não está de acordo com seu gênero, a forma como são vistas diante do mundo.
Em outras palavras, sentem que o sexo biológico é diferente da maneira como se formaram enquanto pessoas.
Não são sem-vergonhas e nem criminosas. São pessoas de carne e osso e sangue, como todos nós, mas que sofrem preconceitos horríveis. Temos o direito de viver como homem ou mulher de acordo com o gênero. Há até um nome para pessoas como nós: cisgênero. Já ouviu falar?
Pessoas cisgênero não vivem conflitos entre sexo e gênero. Mas, temos o dever de defender o direito de todas as pessoas de viver de acordo com a forma como se sentem.
É um direito de cada ser humano buscar a felicidade dentro do que a lei lhe permite. E lutar contra leis que fazem discriminação. Se há um conflito entre sexo e gênero, a pessoa tem direito de viver como melhor lhe aprouver.Isso não a torna nem melhor nem pior; nem boa, nem má; nem inocente nem culpada. Torna-a apenas aquilo que todos somos: pessoas, com direitos e deveres.