Você gosta de histórias policiais?
Se sim, conhece aquela de Agatha Christie sobre a mulher que, com sintomas fracos de uma doença contagiosa, esforça-se para cumprimentar uma famosa atriz após a apresentação de uma peça de teatro.
A atriz está grávida, contrai a doença, perde a criança e não mais consegue engravidar.
Anos depois, totalmente alheia ao sofrimento causado, a mulher, toda feliz, torna a encontrar a atriz e conta que no passado havia até mesmo levantado da cama para ir vê-la no teatro.
Bem, depois disso vem uma longa história de crimes a serem desvendados.
Lembrei desse livro ao ver, na televisão, tantas baladas, festas familiares e reuniões de cunho religioso ocorrendo neste momento de pandemia. Parece que as pessoas não se dão conta de que, ao se divertir ou rezar, podem, assim como a mulher da história, estar causando sofrimento ao próximo e mesmo sua morte.
No caso religioso, essas pessoas vão na contramão da famosa regra de ouro, que norteia a ética de todas as religiões, ou que, pelo menos, deveria nortear: “faça ao outro aquilo que deseja que o outro faça para você”.
No caso da festa, difícil saber se as pessoas:
— estão com tanto medo da morte que querem se divertir e não pensar nela, ou
— não dão a mínima para as possíveis consequências de seus atos, pois se sentem no direito de se divertir.
Surpreende-me o comportamento das famílias, que parecem não questionar esse tipo de ação, mesmo com o risco que representa para alguns de seus membros.
Ouvi, aqui na vizinhança, que um rapaz, que faz home office,
— saiu para balada,
— pegou covid,
— passou pra mãe, que teve de ser internada.
Fico aqui pensando e trocando ideias com os meus botões, que são cegos, mudos e surdos. Em geral, me deixam com mais dúvidas ainda. Sei disso porque converso com eles há quase 70 anos e até hoje não me responderam uma única vez.
Mas penso em voz alta que, sendo ainda jovem e forte, espera-se que no caso do rapaz a doença não vá além de alguns sintomas. Ou mesmo que não tenha sintomas, pois há quem passe a doença para outros, mesmo sem manifestar sintomas.
Espera-se, pois hoje vemos as novas cepas do vírus atingindo pessoas cada vez mais jovens de forma grave.
Mas, não há a mesma expectativa caso pai ou mãe contraiam a doença.
Não dá então apenas para dizer: Lamento, foi maus, como se dizia há alguns anos.
Minha grande pergunta é o que podemos fazer para ajudar essas pessoas a acreditarem que suas ações podem ameaçar vidas.
E a agir de modo a preservá-las.