Na hora, pensei em responder que eu sou uma pessoa, mas o rapaz, filho de conhecidos, não esperou resposta.
Nem sei como nos reconhecemos, os dois de máscara.
Ele explicou:
— Sou analógico. Quero encontrar meus amigos. Essa coisa de se reunir por internet, cada um em sua casa, com sua cerveja, não faz meu tipo. Mas sou obrigado, por causa da pandemia. Você sabe que meus pais são idosos. Me preocupo com eles.
Aí entendi. Analógico, que nem relógio de ponteiros, e digital, que nem aqueles relógios de cabeceira cujos números ficam acesos a noite toda, computadores, celulares…
Eu? Totalmente analógica, quase respondi com atraso.
Adoro abraços, encontros, bate-papos cara a cara… Por alguma razão sou psicoterapeuta, não?
Demorei até aprender a ser digital, mas estou indo bem, quase gritei para as costas dele, que já se afastava, ao encontro da namorada, naquele restaurante da beira da estrada.
Os dois abanaram a mão para mim e foram em direção ao caixa.
Entrei no banheiro, pensando sobre a pergunta.
Acabei rindo alto, sozinha, atraindo a atenção das outras mulheres.
Abaixei a cabeça, fiz o que tinha que fazer, lavei as mãos e parti.
Esse covid veio mesmo nos trazer as mais estranhas ideias.