Não sei se você viveu uma experiência assim.
Uma amiga, de aparência muito jovem, resolveu deixar os cabelos brancos.
Tempos depois, queixou-se de que as pessoas começaram a falar com ela devagar, como se ela tivesse dificuldade de entendimento.
Lembrei-me de minha mãe reclamando do mesmo tratamento.
Uma vez, no hospital, ofendeu-se quando duas enfermeiras agiram como se ela fosse uma menininha pequena e não uma senhora de mais de 90 anos, lúcida e responsável.
Disse para as auxiliares de enfermagem que não tomava banhinho ou chazinho e que não era avó delas. Ao falar com ela, deveriam ter respeito e chama-la de dona Judith.
Recuperou assim sua dignidade de mulher mais velha, de mente ágil e cidadã de direitos.
Chamar uma mulher de tia ou avó pode ter significado em algumas sociedades, como as indígenas, em que as idosas são valorizadas pela experiência de vida e pelo que podem ensinar para as novas gerações.
No nosso mundo, é uma falsa gentileza, uma falsa familiaridade, que mascara a triste realidade de que a pessoa idosa é considerada mais um peso do que alguém que tem uma experiência a passar.
Já ouvi até uma pessoa dizer para a avó, em tom de riso, que ela estava “fazendo hora extra”. E a mulher idosa teve de rir, junto com todos os presentes, apesar da humilhação, reconhecível em seu rosto.
Desde que passei a usar cabelos brancos, venho me preparando para esse tratamento infantilizado e indigno.
Já encontrei até uma forma de responder.
Imitando um político do passado, imaginei que, expressão feroz, olhando diretamente nos olhos da pessoa, eu vou gritar:
–Meu nome é Vera!
E você, como lida ou se prepara para lidar com o respeito devido a todas as pessoas?